segunda-feira, 3 de junho de 2019

Sobre o "dom' ou "talento" musical


Vou inaugurar esse blog com um tema que é muito discutido entre professores de música, estudantes e principalmente os alunos iniciantes em música.  A questão do “dom ou talento musical”.
O senso comum trata o “gênio” ou o “talentoso”, como alguém que possui uma aptidão diferenciada algo que nasce com ele e o torna diferente dos demais. A partir desse pensamento é comum os alunos se autodenominarem sem dom, e a partir desse julgamento faz as  seguintes afirmações: “ eu não tenho dom pra música”, “ para tocar um instrumento é preciso ter dom, e isso eu não tenho”.  Surgem também alguns questionamentos: “será que eu consigo aprender sem ter dom?” “Você dá aulas para alunos, como eu, sem talento?”
Vale considerar que essa “aura” de “dom” e “talento” permeia o campo das artes diferente das outras áreas do conhecimento humano. Será que o aluno que vai fazer Engenharia ou Medicina é questionado se tem ou não  talento?  O que me parece é que as pessoas escolhem a sua atividade e não pensam muito sobre a questão do dom e do talento, situação muito diferente que acontece no ensino da música. Claro que a dúvida faz parte da própria natureza humana, mas ao meu ver e pelos anos que tenho de experiência com alunos de todos os tipos e todas as idades, o “talento” não é algo relativamente importante para o desenvolvimento os alunos.
Segundo as teorias de Vygotsky, e de outros autores sociais–interacionistas, todo o processo de aprendizado ocorre em grande parte pela interação do aluno com seu meio social e por aspectos biológicos que podem ajudar ou prejudicar o aprendizado de um instrumento musical. Como exemplo, um aluno com uma mão muito grande teria dificuldade em comprar um violão adaptado para o tamanho da sua mão, pois a maioria dos instrumentos são feitos para pessoas com a mão de tamanho padrão. Nesse caso o aluno teria que mandar fazer um instrumento adaptado ao tamanho da sua mão. Veja que nesse caso a questão biológica não é um empecilho ao aprendizado, mas sim a questão de conseguir um instrumento adequado.
O que percebi nos anos como professor que o maior “talento” que posso esperar de um aluno, é a paciência e a perseverança, pois esse são fatores importantes para que o aluno passe pelas dificuldades e consiga chegar a um ponto de evolução musical e instrumental. Outra questão importantíssima é que todos os “gênios” da humanidade passaram milhares de horas se dedicando ao assunto, e em algum momento tiveram um algo mais, Se pensarmos a quantidade de horas que Mozart gastou no seu piano, Einstein na descoberta da sua teoria da relatividade. E a famosa frase, 98% de trabalho e perseverança e 2% de talento e genialidade.
O que estou dizendo com esse texto, não é que não existam pessoas, que possuam uma habilidade ou predisposição diferente das demais, mas é que essa genialidade só apareceu depois de muita prática e muita repetição. Como professor de música estou preparado para dar aos meus alunos os 98% de trabalho. Desta forma, um aluno iniciante talentoso e um aluno iniciante sem talento, os dois, partes do mesmo ponto e passam pelos mesmos caminhos.


segunda-feira, 4 de junho de 2018

domingo, 3 de junho de 2018