Vou inaugurar esse blog
com um tema que é muito discutido entre professores de música, estudantes e
principalmente os alunos iniciantes em música. A questão do “dom ou talento musical”.
O senso comum trata o “gênio”
ou o “talentoso”, como alguém que possui uma aptidão diferenciada algo que
nasce com ele e o torna diferente dos demais. A partir desse pensamento é comum
os alunos se autodenominarem sem dom, e a partir desse julgamento faz as seguintes afirmações: “ eu não tenho dom pra
música”, “ para tocar um instrumento é preciso ter dom, e isso eu não tenho”. Surgem também alguns questionamentos: “será
que eu consigo aprender sem ter dom?” “Você dá aulas para alunos, como eu, sem
talento?”
Vale considerar que
essa “aura” de “dom” e “talento” permeia o campo das artes diferente das outras
áreas do conhecimento humano. Será que o aluno que vai fazer Engenharia ou
Medicina é questionado se tem ou não talento? O que me parece é que as pessoas escolhem a
sua atividade e não pensam muito sobre a questão do dom e do talento, situação
muito diferente que acontece no ensino da música. Claro que a dúvida faz parte
da própria natureza humana, mas ao meu ver e pelos anos que tenho de experiência
com alunos de todos os tipos e todas as idades, o “talento” não é algo
relativamente importante para o desenvolvimento os alunos.
Segundo as teorias de
Vygotsky, e de outros autores sociais–interacionistas, todo o processo de
aprendizado ocorre em grande parte pela interação do aluno com seu meio social e
por aspectos biológicos que podem ajudar ou prejudicar o aprendizado de um
instrumento musical. Como exemplo, um aluno com uma mão muito grande teria dificuldade
em comprar um violão adaptado para o tamanho da sua mão, pois a maioria dos
instrumentos são feitos para pessoas com a mão de tamanho padrão. Nesse caso o
aluno teria que mandar fazer um instrumento adaptado ao tamanho da sua mão.
Veja que nesse caso a questão biológica não é um empecilho ao aprendizado, mas
sim a questão de conseguir um instrumento adequado.
O que percebi nos anos
como professor que o maior “talento” que posso esperar de um aluno, é a
paciência e a perseverança, pois esse são fatores importantes para que o aluno
passe pelas dificuldades e consiga chegar a um ponto de evolução musical e
instrumental. Outra questão importantíssima é que todos os “gênios” da
humanidade passaram milhares de horas se dedicando ao assunto, e em algum
momento tiveram um algo mais, Se pensarmos a quantidade de horas que Mozart
gastou no seu piano, Einstein na descoberta da sua teoria da relatividade. E a
famosa frase, 98% de trabalho e perseverança e 2% de talento e genialidade.
O que estou dizendo com
esse texto, não é que não existam pessoas, que possuam uma habilidade ou
predisposição diferente das demais, mas é que essa genialidade só apareceu
depois de muita prática e muita repetição. Como professor de música estou
preparado para dar aos meus alunos os 98% de trabalho. Desta forma, um aluno
iniciante talentoso e um aluno iniciante sem talento, os dois, partes do mesmo
ponto e passam pelos mesmos caminhos.